Para os fabricantes de caminhões, o ano novo começa com as mesmas preocupações. Entre elas, um possível atraso na aprovação do novo Finame – linha de crédito do BNDES responsável por cerca de 80% das vendas de caminhões no país. A morosidade por parte do governo em divulgar as novas condições do Finame em 2014, segundo as montadoras, fez o mercado patinar até abril. A desaceleração econômica e as dificuldades do financiamento são fatores destacados pelas montadoras para explicar a retração no mercado de caminhões estimada entre 13% e 15% para o ano.

 

A produção de 2014 deve ficar ao redor de 130 mil veículos, enquanto no princípio de janeiro a projeção era de 160 mil unidades. Para completar, na outra ponta, o volume de transporte de carga, que no ano passado exibiu alta de 10,7%, terá um encolhimento de 15% até dezembro.

 

Mas há também boas notícias para o setor. Entre elas, a promessa do governo de lançar, até fevereiro, o programa nacional de renovação da frota de caminhões. A proposta, encaminhada pela iniciativa privada ao governo, reza que o caminhoneiro, ao entregar seu caminhão antigo para sucateamento, receberia R$ 30 mil em crédito tributário para a compra de um veículo novo.

 

O texto também prevê que, ao vender seu veículo, o caminhoneiro terá à disposição uma linha de crédito especial do BNDES no financiamento do caminhão zero quilômetro. Caso a promessa seja cumprida, deve desaparecer a queixa das montadoras de que os caminhoneiros autônomos têm acesso restrito às linhas mais baratas do banco de fomento.

 

“A lei de renovação está sendo discutida juntamente com o governo, dentro do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e já avançou bastante. Entendemos que o projeto será sancionado no princípio de 2015, e implementado em seguida”, diz José Hélio Fernandes, presidente da NTC, a Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística.

 

A frota brasileira conta hoje com 2,2 milhões de caminhões, dos quais 300 mil têm mais de 30 anos de idade, de acordo com os dados da NTC. “A idade ideal é de, no máximo, 12 anos, por conta da economia em combustível, melhor desempenho e segurança. Hoje a idade média do caminhão no Brasil está entre 17 anos e 18 anos”, diz.

 

Segundo seus cálculos, considerando que a lei de renovação nacional da frota seja sancionada em princípio do próximo ano, e que a cota de substituição seja de 50 mil unidades/ano, seriam necessários, pelo menos, seis anos para tirar da estrada 300 mil caminhões velhos.

 

“Se a renovação for implementada, trará um novo ânimo ao setor”, acrescenta Roberto Leoncini, vice presidente de vendas, marketing e pós vendas da Mercedes-Benz do Brasil. Apesar de um ano considerado negativo para os fabricantes de caminhões, a Mercedes contabilizou duas vitórias, recuando menos que suas concorrentes nas vendas e elevando seu market share. “O mercado até o mês de outubro caiu 13% em relação ao mesmo intervalo do ano passado e a Mercedes recuou 7%. Além disso, a participação de mercado nos primeiros dez meses do ano passou de 24,4% para 26%”, afirma.

 

O ano novo deverá repetir a produção de unidades projetadas para 2014. “Prevemos um mercado parecido, com 130 mil unidades. Vamos trabalhar para crescer no mesmo nível do mercado, contando com amplo portfólio, que vai de leve até o extra pesado.” Serão desembolsados R$ 3,2 bilhões entre 2010 e 2018. “Desta quantia faltam ainda R$ 730 milhões que serão injetados parte na unidade de Juiz de Fora (MG) e outra em São Bernardo (SP). Estamos investindo em novas linhas, desenvolvimento de produtos, modernização de fábrica e montagem”, resume.

 

A MAN Latin America, líder no setor de caminhões, esperava uma recuperação de mercado, mas deverá encerrar 2014 com queda de 13% a 15%. “O mercado vinha crescendo desde 2009 e em 2012 caiu 20% com a introdução do Euro 5 – motor que reduz a produção de poluentes. No ano seguinte, 2013, houve uma recuperação. Para 2014, para nossa surpresa, observamos uma retração de 13% nas vendas, de janeiro a outubro, contra uma expectativa de crescimento entre 5% e 7%”, observa Roberto Cortes, presidente da empresa.

 

“A tendência natural é que 2015 seja um ano melhor. Tudo vai depender da política econômica, e esperamos crescer entre 5% e 6% em 2015″, diz.

 

Fonte: Blog do Caminhoeneiro (Valor Econômico Texto de Rosangela Capozoli) reportagem de 11/12/2014.